domingo, 28 de setembro de 2008

O Retorno

Saudação a todos,

Primeiramente peço desculpas pela demora em postar, peço desculpas também pelo texto que irei oferecer a todos, ele foge do estilo das postagens anteriores, mas em virtude da falta de tempo e inspiração para escrever resolvi colocá-lo.

Estou pensando nas próximas postagens colocar alguma coisa sobre os Chacras, mas só se eu conseguir algum tempo aqui para isso.

Obrigado pela atenção.



O Retorno



E lá estava João Pedro, deitado de costas no chão de seu quarto, pequenas manchas negras começavam a surgir ante sua visão, olhava para o teto, olhava e via as pás do ventilador a girar e pensava como o mundo também girava, girava e parava sempre no mesmo lugar.

Uma pequena e única lágrima escorria pelo lado esquerdo de seu rosto, mas não era por tristeza, era algo diferente, estava ele sentindo uma sensação que nunca sentira antes, seria essa a primeira e única vez que sentiria algo assim em sua vida, isso ele tinha certeza.

João Pedro havia completado seus 17 anos a um mês atrás, não ouve festas nem comemorações, no dia acordara pela manhã como em todas as outras manhãs, olhava para si mesmo e as coisas ao seu redor e se sentia mal, desceu as escadas e viu sua mãe na cozinha, era uma manhã normal como todas as outras. Recebeu os parabéns da família, a mãe e o pai.

Na manhã de seu aniversário caminhou por entre o pequeno bosque que havia perto de sua casa, e se sentia privilegiado por morar em uma pequena cidade onde tinha o verde ao seu redor, sentou em uma pedra ao lado da estrada que dava ao colégio, seria o seu ultimo ano naquele colégio, último ano que teria que viver em um lugar onde não tivera momentos que merecessem ficar em sua memória.

Deitado ali no chão de seu quarto dançavam lembranças em sua cabeça, lembrava de quando comentara a sua mãe que havia ouvido vozes o chamando, não se lembra direito, provavelmente aos doze anos de idade, sua mãe como todas as mães, havia falado que era imaginação, ele havia insistido que era real, mas seus pais o convenceram que aquilo tudo não passara de pura imaginação infantil.

Lembrava de todas as vezes que ouvia aquelas vozes estranhas o chamando e do medo que corria pelo seu corpo com tamanha intensidade que o deixava paralisado.

Com um leve sorriso em seu rosto virou um pouco sua cabeça e olhou as paredes de seu quarto, olhava admirado, estavam ali desenhados nas paredes símbolos estranhos para os outros, mas tão familiares para ele, símbolos de planetas, estrelas de cinco pontas dentro de círculos, estrelas de seis pontas, palavras em línguas estranhas; na estante se encontravam velhos exemplares de livros igualmente estranhos, muitos encontrados em velhas livrarias, outros comprados via internet e alguns surgidos como um passe de mágica na mão de amigos que não tinham a mínima idéia do que se tratavam e acabavam vendendo por um preço irrisório. Lá estava ele, deitado no chão do lugar que se tornara o mais sagrado de sua vida, o lugar moldado centímetro por centímetro, com frases, palavras e símbolos desenhados e detalhados cuidadosamente.

Quando começou a fazer de seu quarto seu templo sagrado pintando as paredes com todos aqueles símbolos seu pai e sua mãe tentaram o convencer a não fazer aquela loucura, mas acharam que era apenas rebeldia infantil, não entendiam eles o que aquilo significava para ele, não sabiam que ali ele se sentia seguro de todos os espectros de sua mente, ali ele conseguia mergulhar para dentro de si mesmo sem se preocupar com todos os outros que moravam dentro dele.

Sua mente nunca o dava sossego, aprendeu a meditar para conseguir se tranqüilizar, aos quinze anos de idade já sabia tranqüilizar sua mente assim como um jovem monge tibetano. Em um de seus momentos de meditação foi quando ouviu novamente uma voz em sua cabeça, mas diferentemente de todas as outras vezes agora ele não sentia mais medo, naquele momento ele estava em paz, parado ali de forma imóvel, sentado à maneira oriental de pernas cruzadas, ele apenas ouviu, ouviu durante toda uma tarde, aprendeu com aquela voz coisas que livro nenhum poderia o ensinar. Depois daquele dia ele sabia que não era mais o João Pedro de outrora, sabia que era algo maior, muito maior, que já vivera antes e que tornaria a viver novamente, sabia que o João Pedro era apenas uma estrela em um céu onde estrelas se vêem aos montes, sabia que ele era uma estrela e todas ao mesmo tempo.

Não havia ninguém com que pudesse conversar, não havia como o compreenderem ele sabia muito bem disso, por algum tempo tentou expressar o que sentia, mas como esperado ninguém deu idéia as suas palavras. Sua família começara a achar que ele estava tendo problemas por ler todos aqueles livros estranhos, tentaram o levar para conversar com um psicólogo, mas ele não aceitara, sabia que não estava maluco, muito pelo contrário, ele agora via a loucura do mundo, via como as coisas estavam fora do lugar e ao ver que não podia mudar tudo ao seu redor sentia dor, sentava e conversava com aquela voz dentro dele. A voz o acalmava e dizia para não se preocupar com o mundo ao redor, todavia ele ainda não conseguia compreender tais palavras.

Seu rendimento escolar havia caído muito naquele ano, não por que ele não soubesse das matérias escolares, fazia todas as provas sem estudar e sempre passava, mas faltava agora algo, faltava-lhe o interesse de outrora, não via mais nada que o interessasse naqueles livros e professores, poderia muito bem ensinar aos seus professores como viver suas vidas, ele sabia que era maior do que aquilo tudo e isso o afligia.

Há alguns dias atrás havia ouvido uma voz muito graciosa, uma voz que o fazia sentir melhor, como uma mãe que muito ama o filho ela lhe falava sobre dias melhores, lhe contava que aquilo tudo de nada adiantava, pois ele era grande, talvez o maior de todos e que o mundo ainda não estava preparado para sua presença. Ele a ouvia e sentia no fundo de seu ser a profundidade daquelas palavras. Sentado no chão de seu quarto como tantas outras vezes ele chorou de saudades, saudades de um tempo em que ele não conhecia, de uma vida que ele não conhecia, de um lugar que ele não se lembrava, mas mesmo assim sentia saudades.

João Pedro não possuía amigos nesta vida, algumas pessoas estavam ao seu redor, mas nenhum que ele poderia chamar de amigo, João Pedro nunca havia sido amado realmente nessa vida, deitado ali naquele quarto ele sabia disso.

Deitado ali ele lembrava dos filósofos que lera, dos místicos de outrora que ele sabia que também ouviam aquelas vozes, perguntava para si mesmo como eles tiveram tanta força para continuarem vivendo mesmo sabendo que o mundo não estava preparado para eles.

Uma frase ecoava em sua cabeça, a formosa estrela irá se apagar em um oceano vermelho, agora sabia do que se tratava aquela frase que havia sido lhe dita em sonhos.

Olhava para o teto, sentia suas pálpebras pesarem, as manchas negras em sua visão aumentavam.

Deitado ali com os braços abertos, pernas afastadas, um estilete nas mãos e um pequeno riacho de sangue escorrendo de seus pulsos ele voltava para casa.